CPFL prepara-se para iniciar projeto de 'smart grid'


As cidades paulistas de Campinas, Ribeirão Preto, Sorocaba e Santos, além da gaúcha Caxias do Sul, serão as primeiras a receber os 2 milhões de medidores eletrônicos de consumo de energia que a CPFL está comprando por cerca de R$ 700 milhões. A instalação dos aparelhos, prevista para começar nos próximos meses, vai marcar o início da maior experiência nacional em redes inteligentes de energia, as chamadas "smart grids".

Responsável pela área de gestão de energia da CPFL, Ronaldo Borges Franco participou do "User Group", seminário global de tecnologia realizado na semana passada, em Lisboa. O objetivo da empresa brasileira é mitigar a ação de eventos internos e externos que absorvem anualmente cerca de 14% de suas receitas. A CPFL atende a 7,5 milhões de unidades consumidoras nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais.

O executivo foi ao seminário para conhecer a mais recente versão de um software do grupo português WeDo Technologies que auxilia a CPFL a mitigar as chamadas perdas internas de receita, resultantes de falhas na contabilização da energia consumida pelos clientes. Segundo Franco, somente essas baixas podem custar R$ 8 milhões por ano.

Com o avanço dos medidores eletrônicos, a companhia poderá reduzir também as perdas ocasionadas por falhas ou fraudes nos aparelhos convencionais, que necessitam de um profissional para realizar manualmente a aferição do consumo. A expectativa é que a "smart grid" proporcione um ganho substancial de produtividade, com a possibilidade de que várias operações sejam feitas à distância.

"Hoje nós podemos realizar cerca de 50 mil cortes físicos. Com a rede inteligente, teremos dois milhões à disposição", disse Franco, referindo-se aos procedimentos de interrupção do fornecimento para os consumidores inadimplentes. A "smart grid" também possibilita a adoção do sistema pré-pago, normatizado há um ano pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mas que ainda está em fase embrionária no Brasil.

A adoção do modelo, que é bastante semelhante ao utilizado na telefonia móvel, está em fase de estudos na CPFL. Com a rede inteligente, o consumidor poderá adquirir certa cota de energia e acompanhar o consumo, por exemplo, pelo celular, a fim de evitar surpresas indesejáveis na fatura. Segundo Franco, o sistema pré-pago pode ser uma opção interessante para comunidades específicas.

Diretora da Energa Operator, distribuidora que atende a 3 milhões de consumidores na Polônia, Agnieszka Okonska disse que em seu país a energia pré-paga tem boa aceitação, com cerca de 100 mil contratos. Segundo ela, o sistema é muito usado por moradores de imóveis alugados. Uma exigência dos proprietários é que os inquilinos usem a energia pré-paga, para evitar riscos de cortes no fornecimento causados por calotes eventualmente deixados pelos ocupantes do imóvel.

Uma das polêmicas envolvendo essa questão no Brasil é justamente o que fazer em casos de inadimplência. Diferentemente da telefonia, a energia elétrica é considerada essencial e entidades de defesa do consumidor questionam os critérios de interrupção no fornecimento em caso de expiração dos créditos. Na Polônia, não há muita tolerância. "Se não há crédito, não há energia", disse Okonska.

O executivo da CPFL alertou que a colheita dos benefícios da "smart grid" ainda levará algum tempo. "Além dos medidores eletrônicos, há a necessidade de instalação das infovias [redes que vão transportar as informações de consumo] e de todo o sistema de billing [faturamento]", afirmou Franco. De acordo com ele, o investimento nas infovias já está na casa dos R$ 100 milhões.

Se somado ao que será desembolsado na compra e instalação dos medidores, a CPFL terá feito um investimento bastante significativo na modernização da rede. A empresa espera que, em um primeiro momento, esse aporte seja compensado nas tarifas de energia, que poderão ser reduzidas futuramente, quando os ganhos de produtividade e eficiência estiverem sendo colhidos. "Para haver redução lá na frente, precisa mexer na tarifa agora", afirmou Franco.

Em março, a CPFL informou ao Valor que pretendia concluir naquele mês a licitação para a compra dos medidores. Por meio de sua assessoria, a empresa informou que a análise das propostas foi adiada para setembro. A instalação de todos os equipamentos deve levar de cinco a sete anos. Após as cinco primeiras localidades escolhidas, estão no radar as cidades de Piracicaba, Hortolândia e São José do Rio Preto, todas no interior paulista.

Fonte: Valor

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