Plano Piloto ainda tem 94 projeções desocupadas para onde pode crescer

Levantamento inédito feito pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal a pedido do portal mostra onde estão os espaços vazios no Plano destinados a prédios residenciais


A quadra 207 Norte ainda está disponível e pertence à Universidade de Brasília

Embora se tenha propagado por tanto tempo a tese de que o Plano Piloto já estaria completamente ocupado, sem espaço para novos empreendimentos, Brasília tem sim para onde crescer.

A lenda é desmentida por levantamento inédito feito pelo Sinduscon-DF (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal) a pedido do portal: nas quadras das Asas Sul e Norte, ainda existem 94 projeções vazias, destinadas a prédios residenciais (veja arte abaixo), o equivalente a 6% da capacidade do avião projetado por Lucio Costa.

Alexandre Fonseca

Do total de lotes ociosos, 86% estão na Asa Norte e 14% na Asa Sul. Por quadras, a maior predominância – 40% – está nas 200, incluindo as 12 projeções do descampado da 207 Norte, única quadra que, por ora, não saiu do papel. A menor proporção – 16% – está nas 400, onde só podem ser erguidos edifícios com três andares.

De quem são os lotes?

A maior parte das áreas disponíveis no Plano Piloto pertence à UnB (Universidade de Brasília). São lotes – como os da 207 Norte, aliás – doados pelo então presidente Juscelino Kubitschek no início da Capital Federal. A intenção do político visionário era garantir renda extra para a instituição pública de ensino que nascia junto com a cidade nos primeiros anos da década de 1960.


O restante das projeções disponíveis em Brasília está nas mãos de grandes grupos empresariais, de órgãos da União e das Forças Armadas. Mesmo sem terem qualquer construção, as quadras 413 e 414 Norte não aparecem na lista de áreas ociosas, uma vez que integram o perímetro do Parque Olhos D’Água.

Representantes do mercado imobiliário acreditam que serão necessárias pelo menos mais duas décadas para o Plano Piloto ficar totalmente preenchido. Em Ipanema, bairro nobre do Rio de Janeiro fundado em 1894, a última projeção residencial só foi ser lançada quatro anos atrás, com metro quadrado que chegou a R$50 mil.

Projetos modernos

Ainda que leve tempo para serem concretizadas, as últimas projeções residenciais de Brasília tendem a ser naturalmente cobiçadas. Os projetos modernos, muito provavelmente com varanda nos apartamentos e área de lazer completa, devem ser lançados a conta-gotas nos próximos anos, depois que o mercado – hoje vivendo a sua pior crise – volte a respirar.

Se os lançamentos dos lotes desabitados ocorressem hoje, os valores de tabela ficariam entre R$13,5 mil e R$16 mil, segundo especulam representantes do mercado consultados pelo Fato Online. Nas quadras 400, onde 15 áreas aguardam construção, os preços seriam menores. O tamanho dos imóveis poderia chegar a 250 metros quadrados, mas a média certamente seria inferior à dos apartamentos mais antigos.


Decisão da UnB


A ocupação das projeções vazias depende, em grande parte, da UnB, que, historicamente, lida de maneira lenta e confusa com os terrenos que possui. Em um passado recente, a instituição fez parcerias com a iniciativa privada para tentar desovar o estoque de lotes. O reitor da universidade, o professor Ivan Camargo, antecipou ao Fato Online, que estratégias como essa podem ser repetidas em curto prazo.


"Queremos transferir esses bens o mais rápido possível”Ivan Camargo - Reitor UnB


“Estamos elaborando alguns projetos, que serão conhecidos em breve. Queremos transferir esses bens o mais rápido possível”, afirmou o reitor, reconhecendo a “enorme dificuldade de gerenciamento” da instituição nesse ponto. De acordo com Camargo, o tema estará na pauta na próxima reunião do conselho diretor, em junho. “Os imóveis representam importante fonte de renda para a UnB”, emendou. A receita anual da universidade com aluguéis ultrapassa, atualmente, os R$20 milhões.


Projetos emperrados

As cinco projeções vazias em posse do grupo Paulo Octávio – quatro na Asa Norte e uma na Asa Sul – já têm projetos prontos. “O problema é que, como tantos outros, estão emperrados pela burocracia administrativa”, disse o empresário que dá nome ao grupo. Mesmo com o mercado estrangulado, Paulo Octávio pretende ocupar os lotes ociosos assim que obtiver aval para construir.

“Morar no Plano Piloto, ou continuar morando, é prioridade para muita gente"Pedro Fernandes - ABMI

As Asas Sul e Norte abrigam cerca de 220 mil pessoas, segundo os cálculos mais atualizados da Codeplan (Companhia de Planejamento do DF). “Morar no Plano Piloto, ou continuar morando, é prioridade para muita gente. Os lançamentos das últimas projeções terão sucesso garantido”, acredita Pedro Fernandes, diretor de relacionamento da ABMI (Associação Brasileira do Mercado Imobiliário). Para ele, os atuais moradores do Plano, em busca justamente de projetos mais modernos, serão os principais clientes dos últimos imóveis disponíveis no coração de Brasília.

Na opinião do vice-presidente do Sinduscon-DF, João Accioly, antes mesmo de o Plano Piloto ser totalmente ocupado, será intensificada a prática do chamado “retrofit”, ou seja, a repaginação de prédios velhos. “As pessoas demandam modernidade. Não à toa, o preço do metro quadrado das projeções que faltam será altíssimo”, prevê.

Trânsito

Assustado com a quantidade de prédios ainda a serem erguidos no Plano, o especialista em trânsito e professor da UnB Paulo Cesar Marques vislumbra dificuldades cada vez maiores para os motoristas se não houver incentivo sério ao transporte coletivo. “Hoje em dia, cada apartamento tem pelo menos dois veículos. O fluxo maior de carros será inevitável. Não adianta: ou se tomam de vez medidas estruturantes ou a mobilidade ficará ainda mais complicada”, sustenta.

Fonte: Redação

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