*João Teodoro
O site “g1.globo.com” divulgou estudo realizado pela Consultoria Ernest & Young, sob o título “Profissões como corretor de imóveis e árbitro devem desaparecer até 2025”, indicando a profissão de Corretor de Imóveis como uma das nove que serão extintas até o ano de 2025. Há controvérsias
Estudo similar desenvolvido por dois pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, analisou 702 ocupações e estimou em percentual suas chances de automatização (extinção ou reconfiguração) nos próximos 20 anos.
O estudo levou em consideração as demandas específicas de cada profissão, como: exigência por soluções criativas, interações sociais e negociações, que são os pontos fracos dos computadores. Opa! Alguém, por acaso, não vê essas três qualificações como essenciais ao bom desempenho do profissional Corretor de Imóveis?
Pois é, somente as profissões que não dependem dessas qualificações são as verdadeiramente ameaçadas de extinção pelo avanço tecnológico. Máquinas não pensam, agem somente com base na lógica matemática, na pré-programação.
Mas a vida e os negócios nunca são apenas lógicos. Corretores de Imóveis pensam e podem desviar-se da lógica para realizar negócios. Máquinas não interagem socialmente. São meros robôs. Corretor de Imóveis e seus clientes são gente e se inter-relacionam socialmente. Máquinas não articulam negociações, não fazem contrapropostas, não têm poder de persuasão. Corretores de Imóveis raciocinam, articulam e têm poder de persuasão.
As profissões ameaçadas são aquelas que não dependem da sensibilidade humana, que podem perfeitamente ser robotizadas ou programadas, como a do operador de telemarketing, que é vista com 99% de chance de ser extinta. O estudo da Oxford lista as 32 profissões mais ameçadas e cita seus percentuais de risco, por área de atividade. Acompanhem a seguir.
ARQUITETURA E ENGENHARIA: Cartógrafo (87,9%); Desenhista de eletroeletrônicos (80,8%); Desenhista de arquitetura (52,3%); e Engenheiro de hardware (22,5%);
ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS: Contador da área de impostos (98,7%); Assistente de empréstimos (98,4%); Analista de crédito (97,9%); e Analista de orçamento (93,8%);
EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO: Arquivista (75,9%); Bibliotecário (64,9%); Assitente de professor (55,7%); e Professor de ensino fundamental (17,4%);
MATEMÁTICA E COMPUTAÇÃO: Programador de computadores (48,1%); Estatístico (21,8%); Atuário (20,6%); e Analista de segurança da informação (20,6%);
VENDAS: Operador de telemarketing (99,0%); Caixa (97,1%); Vendedor de varejo (92,3%); e Vendedor de seguros (91,9%).
Opa! Estamos falando de vendas. Embora, e graças a Deus, essa não seja a única atribuição do Corretor de imóveis, seguramente, vender é uma de suas principais atribuições. Mas alguém vê nesta lista (VENDAS) a profissão de Corretor de Imóveis? Não!!!
DIREITO : Assistente paralegal (94,5%); Escrivão (50,2%); Auxiliar jurídico (40,9%); e Juiz (40,1%);
GASTRONOMIA: Cozinheiro de restaurante (96,3%); Garçon (93,7%); Cozinheiro de lanchonete (82,7%); e Barman (76,8%);
TRANSPORTE: Motorista de caminhão (97,8%); Taxista (89,4%); Motorista de ônibus (88,8%); e Auxiliar de estacionamento (87,4%).
Nada contra a empresa de Consultoria Ernest & Young, entretanto o estudo científico elaborado sob a responsabilidade de uma Universidade do naipe da Oxford me parece mais convincente. Mas nele, como se vê acima, não há qualquer referência aos Corretores de imóveis entre as 32 profissões ameaçadas. E isto pelos próximos 20 anos, não apenas até o ano de 2025.
É claro que o mercado de trabalho é dinâmico e está sempre em busca de melhor perfil institucional. A industrialização, iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, provocou a primeira Revolução Industrial. Esta fase praticamente liquidou com a manufatura e, no artesanato, só a arte sobreviveu. Mas, em contrassenso, os empregos se multiplicaram, as cidades cresceram e houve o início do êxodo rural, cujas consequências todos sabemos.
A segunda Revolução Industrial aconteceu com o advento do petróleo, que se tornou a principal fonte de energia, em substituição ao carvão. A indústria se tornou mais complexa e passou a exigir mão de obra mais qualificada. Surgiu o “fordismo”, caracterizado pelo trabalho repetitivo.
A terceira Revolução Industrial, que alguns chamam de Revolução técnico-científica informacional, é a que se encontra em curso atualmente: a era da globalização, influenciada pela ciência e pela tecnologia da informação e da comunicação.
Não será diferente com o mercado imobiliário. Se quisermos nele permanecer, temos de acompanhar o seu desenvolvimento. Por isso, o Sistema COFECI-CRECI tem-se empenhado tanto na questão da educação geral e técnica do Corretor de imóveis. O sapo, quando introduzido em vasilha de água submetida a fogo brando, morre cozido sem se dar conta. Assim será com o Corretor de Imóveis que insistir na inércia. Permanecer estático no tempo é morrer sem perceber.
Temos de nos adaptar aos novos tempos. Se ele exige conhecimentos tecnológicos, vamos buscá-lo. Se exige agilidade, vamos exercê-la. Se exige compartilhamento de negócios, é isso que temos de fazer. Se exige sistematização, “apptização”, “uberização” ou qualquer outro tipo de “zação”, é nossa obrigação entrar no jogo e ganhá-lo. O que não podemos é ficar nos lamentando e deixar o tempo e as oportunidades passarem. A concorrência não perdoa!
O sistema recentemente cantado em loas, chamado “uber dos imóveis”, nada mais é do que uma imobiliária criada por alguns “espertos” (não confundir com experts), que viram na informatização uma bela oportunidade para atrair capital. E parece que estão conseguindo. As últimas notícias dão conta de que já arrecadaram cerca de R$70 milhões. Parabéns a eles pela ideia.
Mas a tal “uber ” não passa de uma IMOBILIÁRIA que buscou adaptar-se aos novos tempos. Trata-se de uma “start up” que, além da ideia, tem de inspirar muita credibilidade. Qualquer imobiliária pode desenvolver sistema semelhante ou até melhor. Provavelmente, uma empresa já constituída e consolidada no mercado, se utilizasse um sistema parecido, teria muito mais sucesso do que uma “start up”. É questão de ideia e criatividade. E isso não nos falta.
Da mesma forma, temos ouvido falar de um “app ”, que promete viabilizar negócios sem a interferência de Corretor de Imóveis. Ora, qualquer profissional ou imobiliária pode criar e operar sistema parecido. É só questão de criatividade.
O tal “app” deixa claro que não assume responsabilidade por eventual ilegalidade documental ou irregularidade no imóvel. Isso é problema do usuário, que tem de contratar um advogado para assessorá-lo e, quem sabe, um engenheiro ou arquiteto para conferir a usabilidade do imóvel . Ora, um advogado que se preze não cobrará menos de dez por cento para prestar assessoria. Quanto cobrará um engenheiro ou arquiteto? Os Corretores cobram 6% para fazer o serviço completo, inclusive o pós-venda.
Por outro viés, em qualquer parte do mundo, mesmo nos EUA, há um pequeníssimo percentual de pessoas (menos de um por cento) que, até que levem um belo prejuízo, entendem que podem dispensar o trabalho do Corretor de Imóveis.
Mas não será o nosso choro que vai mudar isso. É preciso usar de criatividade. Começando por não falar no tal “app”, principalmente nas mídias sociais. É isso que ele provoca, porque precisa de divulgação gratuita. Não vamos facilitar. Vamos combater oferecendo bons serviços e justificando o seu custo. Há um milhão de motivos para isto.
Por fim, quero testemunhar que, até 1978, eu não contratava seguro para meus veículos porque entendia que era caro e inútil. Em setembro daquele ano, entretanto, comprei um carro zero quilômetro e um amigo meu, que vendia seguros, foi tão insistente e eloquente que me convenceu, mesmo a contragosto, a contratar o tal seguro.
O seguro vigorava a partir das quatro da tarde. Às dez da noite, meu carro novo foi roubado. Nunca mais o vi. Recebi o prêmio correspondente e nunca mais deixei de segurar meus carros. Aprendi a lição, assim como a aprenderá cada comprador de imóvel que insistir em dispensar o trabalho do Corretor de Imóveis.
Enfim, nossa profissão jamais será extinta. Só depende de nós. Não há “uber ” que também não possamos criar. E não há “app” capaz de nos excluir. Tudo o que precisamos é acompanhar a evolução dos tempos, buscar o nosso aperfeiçoamento constante e agir com muita presteza, com ética e conhecimento de causa. É isso!
*João Teodoro da Silva, presidente do COFECI.
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Beatriz Caparelli
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