Aulas de português para imigrantes, capoeira e oficina de grafite fazem parte da programação
Em tempos que a cena cultural de Brasília se encontra em crise, espaços culturais são criados como forma de resistência. É o caso do Observatório Urbanos, localizado no Guará. O lugar é voltado para debates, reuniões com amigos, aulas de português gratuitas para imigrantes e outras atividades. Formada em Letras PBSL pela Universidade de Brasília, Natália Alencar tem uma turma de 20 alunos haitianos que se reúne semanalmente no espaço. Ela observa que, desde a adolescência, aprecia o contato intercultural. “Eu sempre gostei de trabalhar com culturas diferentes, seja do povo indígena, estrangeiro ou surdo”, explica.
Localizado no Guará, o Urbanos é um lugar para debates, reuniões com amigos, aulas de português gratuitas para imigrantes e outras atividades.
Natália comenta sobre o interesse em dar aula de português para imigrantes e a importância do Urbanos como um lugar de possibilidades. “Eu fazia parte de um projeto interdisciplinar na UnB que visava o acolhimento e a inserção de imigrantes. A partir daí, me interessei e consegui um espaço no Urbanos para trabalhar com isso”, lembra ela.
Aos 32 anos, o haitiano Gentil Domace vive no Brasil desde 2016, quando veio para o país em busca de trabalho. Atualmente ele trabalha como auxiliar mecânico em uma empresa de transporte público de Brasília. Ele conta que também ajuda na lavagem dos veículos.
Gentil, como muitos outros haitianos, não sabia falar português, mas com a ajuda da professora passou a, semanalmente, se reunir no espaço para praticar o idioma. “É um espaço agradável”, diz ele sobre o Urbanos ainda com dificuldade na fluência da Língua Portuguesa.
O haitiano, Gentil Domace, e a professora de português, Natália Alencar, praticam, semanalmente, o idioma.
No local há um espaço de convivência, com sofás, livros e artes de todos os tipos. Na lateral da casa há uma área verde e trabalhos de artistas que já passaram por ali. Já na parte de trás, um espaço para shows musicais. Para acolher toda a comunidade, a casa também visou a acessibilidade para cadeirantes. Além das aulas de português para imigrantes, o espaço também oferece aulas de capoeira e sedia eventos que ajudam na manutenção da casa. O bancário aposentado Expedito Veloso é um dos fundadores do espaço e diz que a casa não conta com ajuda financeira de entidade alguma. “Hoje nós temos uma despesa de água, luz e internet. Sempre que temos eventos, e quando há possibilidade, vendemos um lanche, um cachorro quente, um caldo”, lembra ele.
O Urbanos também conta com colaboradores que produzem no espaço. Músico e ativista sociocultural, Hélio Gazu também é fundador do espaço cultural e conta que a ideia de abrir uma casa de cultura livre foi a identificação de uma demanda reprimida da cidade. “Os artistas e produtores não têm um espaço para devolver a atividade deles. A ideia do Urbanos não é só identificar e promover a cultura, mas mostrar problemas da cidade e propor soluções”, explica Hélio.
Produtor cultural, educador social e grafiteiro, Julimar dos Santos já fez três artes para o Urbanos e comenta que o espaço é um lugar de resistência da arte e fomento da cultura. “Recentemente realizamos uma oficina de grafite que resultou num painel colaborativo. Pretendemos voltar com essa programação para nos envolvermos mais com a comunidade”, lembra ele.
Recentemente o espaço organizou uma oficina de grafite que resultou num painel colaborativo.
O espaço cultural Urbanos fica próximo a Feira do Guará e funciona de segunda a sexta, das 10h às 22h. Para visitas, colaborações ou mais informações é necessário entrar em contato pela página do Urbanos Observatório no Facebook.
Por: Mayara Oliveira
Foto: Mayara Oliveira