Drag Queens ultrapassam fronteiras regionais, lotam boates, mas não têm remuneração adequada

Figurinhas carimbadas nas portas das maiores baladas LGBTQ+ pelo Brasil, as drags marcam presença nos palcos e nas redes sociais, porém, os cachês não são tão altos assim

Artistas de Brasília e São Paulo têm agenda cheia e convites para outros estados, gastam muito, recebem pouco, mas o amor pela arte não deixa o cachê baixo abalar. Perucas, maquiagens, roupas sob medida, corset, saltos… Uma drag queen é feita disso tudo e de muito mais.

Carrie Myers, de Brasília, chega a levar de 4 a 7 horas para ficar totalmente pronta

Carrie Myers, drag brasiliense de 23 anos, começou como uma brincadeira com um amigo, se apaixonou pela arte e já está beirando os 4 anos de carreira. Conhecida pelo amor ao Halloween e pela ode ao terror, Carrie já foi à Campo Grande, (MS) Cuiabá (MT) e Goiânia (GO) levando sua arte. “Pelo Facebook mesmo eu fiquei bastante conhecida e recebi o convite. Agora em maio eu estou indo a São Paulo para performar na maior boate de lá!”, conta Myers.

Sophie Van Der Beek, 22 anos, é natural de Fortaleza (CE), mas se mudou há pouco tempo para Brasília. A jovem ainda sofre preconceito por ser mulher cis onde majoritariamente os performers são homens, mas isso tanto não abala a moça, como a inspirou a criar o Baile de Sophie. “A festa era 95% feita por drags locais e nacionais. A gente já teve edições com atrações como Kaya Conky, de Natal (RN), GabrYuri e Concha Dóris, de Santa Catarina. Todas as drags que compareciam à festa tinham direito de se apresentar na catwalk drag e mostrar o seu trabalho. Muitas tiveram a primeira oportunidade de tocar como DJ ou performar no baile”, comenta.

Já Sasha Zimmer (foto em destaque), 23, rodou o país em 2016 se apresentando como cover da cantora Beyoncé. No fim do ano, lançou seu primeiro single, “Poderosa”, e já está com planos pra um segundo. “Tenho lutado cada dia mais e buscando sempre evoluir. Estou trabalhando no segundo single e ao decorrer disso eu vou decidir o que fazer. Meu sonho é ter minha marca de roupa, vestir mulheres, homens, drags, então eu meio que tenho me ocupado com isso”, diz a paulistana.

Sophie se mudou do nordeste para Brasília afim de encontrar mais espaço para sua drag

Mas no fim das contas, beleza e popularidade não botam pão na mesa. Todas elas concordam que falta valorização tanto entre delas mesmas, quanto subir o cachê nas festas. “É exigido um padrão de produção muito alto em comparação ao valor que nos é pago”, cita Sophie. “Eu cobro pelo meu trabalho, mas as que fazem por consumação prejudicam essa média de valor. Como realmente valorizar monetariamente uma arte onde os próprios artistas não se valorizam?”, pontua Sasha. “Eu consigo me virar bem com o que ganho nas festas que faço, mas ainda não tô rica”, diz Carrie.

Embora o Brasil não disponha das melhores marcas de maquiagem, perucas e demais acessórios fundamentais para uma drag queen, elas se viram com o que há e arrumam paliativos para o que não está disponível por aqui. Ainda assim, permanece o baixo reconhecimento financeiro. Com cachês que variam de R$ 100 a R$ 300 por noite, as artistas chegam a gastar mensalmente R$ 950 em looks, R$ 2.000 em maquiagens e R$ 400 em perucas.

“Aqui tem muita drag brasileira que faz muito com pouco que é oferecido no país, se fosse investido mais na cena, com certeza iria crescer mais ainda a visibilidade. Falta gente que confie nos trabalhos locais”, conta a cearense Sophie. “A mídia (TV aberta) dar mais espaço pra isso. Além das drags se apoiarem e darem suporte pras queens locais. Acredito que hoje o drag é definitivamente uma arte registrada, sempre foi, porém hoje tem mais visibilidade, aceitação e suporte, pouco, mas tem”, acrescenta a paulista Sasha.

Wilson Nemov, produtor de Brasília, tem uma festa bimestral em homenagem à arte drag

Além disso, elas têm que ser um pacote completo: simpáticas nas portas das boates, arrasarem no palco e terem um bom set de DJ, entre outras exigências. É o que conta o produtor Wilson Nemov, que há 3 anos traz drags de todo o país para Brasília, além de “importar” algumas queens de outros países – em sua maioria, ex-participantes do reality show RuPaul’s Drag Race, dos Estados Unidos. “A drag precisa que eu compre a ideia do seu trabalho e também tenha alcance de público, para alavancar vendas de ingresso”, diz o produtor.

Sobre a valorização das queens, Nemov pontua: “A gente paga pelo que vende e as brasileiras ainda não têm TV como arma publicitária. Drags como Pabllo Vittar, por exemplo, ganham mais que as participantes de RuPaul’s Drag Race”.

Endossando o coro de que se deve respeitar e valorizar a prata de casa, Sasha comenta: “Pra ser drag não basta saber se maquiar, dançar ou dublar, você tem que ser forte porque se for fraco a noite te suga e você se perde. Eu busco sempre me inovar, trabalhar pro meu crescimento, isso é o mais fundamental”.

Por Daniel Martins.

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