LBV na atenção aos mais vulneráveis

 

Com trabalho em rede, a Instituição defende cidadãos que têm seus direitos violados, a exemplo das vítimas de violência doméstica


Desde que a pandemia do novo coronavírus passou a afetar os brasileiros, a Legião da Boa Vontade (LBV) se desdobrou para proporcionar, por meio da campanha SOS Calamidades, alimentação e segurança sanitária a milhares de famílias, em todas as regiões do país, que se encontram em risco social. O atendimento presencial em seus Centros Comunitários de Assistência Social e em suas escolas foi suspenso, mas ainda assim a Entidade pôde promover atividades remotas a crianças, jovens, adultos e idosos, bem como acompanhar a realidade de cada família, sobretudo daquelas que sofrem violação de direitos.

Tanto no processo de Acolhida* quanto nos outros tipos de atendimentos, é utilizada a técnica de abordagem denominada Escuta Qualificada: as assistentes sociais, psicólogas e pedagogas da LBV fazem contato a cada 15 ou 30 dias com esses lares, de modo que jamais se sintam sozinhos nos dramas que enfrentam. Nessas oportunidades, buscam saber se os familiares têm passado alguma necessidade específica em que a Instituição possa colaborar, se estão precisando de alguma informação de utilidade pública, além de verificar se casos de tortura, maus-tratos, privação de liberdade, abandono, entre outras graves situações, têm ocorrido ou se perpetuado.

Essa atenção da LBV em garantir a integridade física, psicológica, moral e espiritual de seus atendidos é fortalecida por uma grande rede de apoio com outras instituições do Poder Público, entre elas o Centro de Referência de Assistência Social (Cras), o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), o Ministério Público e os Conselhos Tutelares. De acordo com Wilson Bigas, gerente do departamento socioassistencial da Legião da Boa Vontade, “o acompanhamento desses casos não é especificamente um objetivo do atendimento da LBV, visto que ela trabalha na proteção básica, e esta tem como premissa a prevenção. Quando a violação ocorre, nosso papel ao identificar a situação é mobilizar a rede socioassistencial para as soluções e desdobramentos dos demais parceiros”.

Em casos mais graves, aproveitando entregas de benefícios (como cestas de alimentos e kits de limpeza), os profissionais da Instituição chegam a fazer visitas presenciais aos lares, seguindo as recomendações de etiqueta respiratória e todos os cuidados com a higienização e o distanciamento físico. Assim, podem observar mais de perto o que sucede e fornecer, de maneira ética e segura, todos os detalhes pertinentes aos órgãos responsáveis por intervir na questão, bem como instruções mais completas aos atendidos. Atualmente, os profissionais da LBV acompanham mais de 400 casos de desrespeito à dignidade humana e de violação de direitos e, ao todo, entre abril e outubro, realizaram 550 atendimentos de psicologia, 4.195 atendimentos sociais e 15.131 atendimentos à distância.

Se o trabalho da LBV em amparar pessoas socialmente vulneráveis já era imprescindível antes da pandemia, tornou-se ainda mais importante durante o resguardo contra a Covid-19. O aumento nos episódios de violência doméstica indica isso. Ao conviverem por mais tempo no mesmo espaço com seus agressores, meninas e mulheres têm corrido maior perigo. Em abril, quando o distanciamento social já durava cerca de um mês, a quantidade de denúncias de violência contra a mulher recebidas no Ligue 180 deu um salto: cresceu quase 40% em relação ao mesmo mês de 2019, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH). De abril a junho, somente no Estado de São Paulo, foram registrados 5.559 boletins de ocorrência dessa espécie feitos pelo site da Polícia Civil — o que equivale a uma queixa a cada 23 minutos e 19% do total.

No Pará, de acordo com a Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid), o mês de junho apontou crescimento de 20% nas medidas protetivas contra a violência doméstica em relação ao mesmo período de 2019. De janeiro a junho deste ano, foram registrados 6.574 casos de violência contra a mulher no Estado, o qual foi também o que teve maior aumento de ocorrências de lesão corporal por violência doméstica no 1o semestre de 2020 — situação vivenciada por A.M. em Belém/PA. Aos 26 anos, ela sofria agressão física, psicológica e patrimonial de seu companheiro, R.T., 27. Ele a submetia aos mais variados tipos de agressão quando ela o confrontava por furtar seu dinheiro e objetos da própria casa para manter a dependência química. O caso passou a ser conhecido pela assistente social da LBV Paula Pereira, após relato da genitora da jovem, a dona G.S., que já participava do serviço Vivência Solidária na unidade da Instituição (antes da pandemia), o qual visa fortalecer a convivência e os vínculos familiares.


 

Procurada por Paula, A.M. aceitou receber ajuda. Assim, mãe e filha passaram por acompanhamento social familiar periódico e foram encaminhadas para uma unidade de saúde, para a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) e para o Cras. Como resultado, R.T. deixou a residência; A.M. está sob medida protetiva, vem fortalecendo sua autoestima com uma rotina mais saudável e continua recebendo, por parte da LBV, orientações acerca de seus direitos como cidadã.

LBV salva vidas!

Outra história que chama a atenção é a de J.S., genitora de G.S., frequentador do serviço Criança: Futuro no Presente! no Centro Comunitário de Assistência Social da LBV em Goiânia/GO. Ao perceberem que o comportamento do menino estava alterado, a equipe de profissionais da unidade buscou entender a razão disso. Durante atendimento psicológico, o garoto expôs que vivenciava alguns conflitos em casa. Convidada a conversar, J.S. relatou as violações sofridas e passou a receber o apoio da Entidade, já que, insegura pelas atitudes do marido, temia constantemente pela sua vida e pela de seus filhos.

J.S. recebeu acompanhamento familiar com atendimentos periódicos e encaminhamento ao Cras, para suprimento das vulnerabilidades materiais, e ao Creas, a fim de ser apoiada pelo Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI). Vanessa Marcelly, psicóloga da LBV, colaborou na quebra do ciclo de violência, tratando das emoções da assistida. A especialista conta que “J.S. apresentava marcas psíquicas das violências sofridas com reflexos de baixa autoestima e ideação suicida. Durante o acompanhamento, ela conseguiu se reconhecer e enxergar a relação em que estava, o que lhe possibilitou novas escolhas e oportunidades. Há alguns meses, após diversas tentativas frustradas em estabelecer uma relação saudável, ela se separou do cônjuge”. E completou: “É gratificante notar a confiança ofertada [à atendida]. Ver uma mulher se redescobrir, reconhecer sua importância neste mundo e lutar por ela nos traz esperança”.

* Acolhida — Primeiro contato entre os profissionais da LBV e as pessoas que recorram a ela em busca de algum atendimento ou benefício. Por meio da Acolhida, a Instituição verifica se poderá ajudar o cidadão de imediato e se os dados dele já se encontram disponíveis no Cras de sua localidade, de modo que o referido órgão esteja a par das necessidades do usuário. Frequentemente, é a própria LBV quem apresenta novos indivíduos ao sistema do Cras, repassando os dados deles e informando-os quanto aos direitos desconhecidos e aos mecanismos para alcançá-los.

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