Opinião: Afinal, qual o futuro das moedas digitais?

       

 Adriana Saluceste*


“Moeda digital exclusiva para uso nas Olimpíadas de Tóquio”; “Brasil quer lançar Real Digital”; “Bitcoin atinge valor recorde no ano”. Manchetes como essas aparecem nas páginas de notícias brasileiras todos os dias. Parece que não há mais discussão, afinal: as moedas digitais realmente vieram para ficar. Mas, qual o futuro desses criptoativos e de que forma vamos nos relacionar com eles ao longo dos próximos anos?

Quando os primeiros exemplares de moeda digital surgiram no mundo, lá pelos já longínquos idos de 2008, o Orkut ainda era uma das principais redes sociais utilizadas no Brasil, o WhatsApp não havia sido criado, conversar por SMS era uma constante na vida de quem queria se comunicar de forma mais rápida e sem precisar fazer uma ligação telefônica. Praticidades como os pagamentos eletrônicos, então, não eram sequer um sonho para a maioria dos seres humanos. Para que, então, serviria uma moeda digital? O tempo parece ter respondido a essa e outras perguntas.

Com o passar dos anos, mais e mais pessoas começaram a se aventurar pelo mundo dos investimentos, incluindo os aqueles feitos em criptomoedas. O bitcoin, exemplar inicial desse tipo de ativo, teve seus altos e baixos. Foi da valorização estrondosa à descrença e, agora, parece ter atingido um patamar sólido em termos de oferta e demanda no mercado, o que o torna cada vez mais atrativo para quem busca formas de diversificar investimentos.

Na esteira desse sucesso, outras tantas moedas foram lançadas. Algumas encontraram seu nicho entre os investidores, outras foram descontinuadas. Durante as Olimpíadas de Tóquio, em 2021, uma moeda digital oficial foi anunciada pelo governo japonês para centralizar as operações realizadas por delegações e visitantes dos jogos. Agora, o Banco Central brasileiro já até divulgou o código-fonte utilizado para criar a infraestrutura necessária para a fase de testes do Real Digital.

Uma convivência harmônica entre esse tipo de moeda e as moedas tradicionais, com lastro na valorização do ouro, por exemplo, parece ser o cenário mais provável para o futuro breve. Mesmo porque um dos argumentos contra as criptomoedas é, justamente, o de que elas não têm lastro. No entanto, hoje em dia a maior parte do dinheiro que circula pelas redes bancárias de todo o mundo também não o possui.

Um dos exemplos mais recentes disso é o da Grécia que, quando se viu em uma crise financeira, precisou limitar o número de saques por pessoa para que o sistema bancário não entrasse em falência irreversível. Ou seja, o dinheiro que a população tinha nos bancos era quase meramente virtual, não havia moeda de verdade por trás dele. No entanto, a crise pôde ser dominada depois de algum tempo e, atualmente, os gregos já não são o centro das atenções quando se fala em problemas econômicos e financeiros.

Da mesma forma, conforme as novas modalidades de moeda se mostram capazes de superar os solavancos típicos do mercado financeiro, a tendência é que as pessoas também ganhem confiança em negociações que as envolvem e, consequentemente, passem a utilizá-las com mais frequência, o que é a base para que qualquer ativo se consolide. O futuro das moedas digitais, nesse sentido, parece ser aquele de toda moeda - e de todo ativo financeiro, na verdade: utilização em massa, altos e baixos cambiais, pequenos “sustos” ao longo dos anos. Nada que já não conheçamos.

*Adriana Saluceste é diretora de Tecnologia e Operações da Tecnobank.

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