Opinião: Setor de automóveis toma fôlego

 

 *Luís Otávio Matias

Todo mercado funciona um pouco como um atleta de natação. Braçada após braçada, o objetivo é alcançar a borda oposta no menor tempo possível. Mas esse esforço só é possível porque, entre uma braçada e outra, o nadador levanta a cabeça e toma fôlego. Sem essa pausa não é possível completar a prova. E a mesma lógica vale para quase tudo na vida, inclusive os negócios.

Quando a pandemia de covid-19 surpreendeu o planeta, no início de 2020, poucos puderam prever os impactos profundos que ela viria a ter não apenas na saúde da população mundial, mas também na educação, nos negócios, na subsistência. Em maior ou menor grau, todos os setores da sociedade foram atingidos pelas consequências dos períodos de lockdown. Entre eles, é claro, o da indústria automobilística. Foram quase três anos de resultados negativos, muitas vezes desanimadores, em que tínhamos a sensação de estar embaixo d’água, sem a força para subir à superfície e tomar o fôlego necessário para nossa missão.

Com a crise de insumos finalmente solucionada, podemos, enfim, ver sinais de que nosso longo mergulho não foi em vão. No Brasil, por exemplo, temos recebido boas notícias dia após dia, braçada após braçada, o que já nos permite tomar algum fôlego antes de voltar a nadar em frente com toda a força. O primeiro semestre de 2023 se encerrou com um crescimento de 12,5% no volume de vendas de veículos novos, em comparação ao mesmo período de 2022. Já os usados registraram um aumento de 4,6% no semestre, também em comparação ao primeiro semestre do ano passado. As informações são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Um dos fatores que contribuíram para esse aumento foi o pacote de medidas do governo federal, que tinha como objetivo incentivar a volta do famoso “carro popular”. No Brasil, esse tipo de produto tem uma importância histórica para a indústria. Afinal, a renda média mensal no país aponta que a maior parte das pessoas não consegue arcar com os custos dos modelos mais caros.

Segundo dados da Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os resultados positivos já podiam ser vistos antes mesmo do fim de junho. As medidas haviam sido anunciadas no mês anterior, maio de 2023. E, embora o programa tenha sido um sucesso, não foi ele o único responsável por esse fôlego para a indústria automotiva. Uma recente queda na taxa de desemprego no país, bem como a redução da inflação, também contribuíram para que chegássemos à segunda metade do ano com boas perspectivas para o setor.

Agora, com o recente anúncio da redução na taxa de juros, é provável que esses resultados positivos registrados no primeiro semestre continuem sendo vistos pelo restante do ano. E, se ainda não temos os números que gostaríamos de ter, ao menos agora já não nos debatemos sob a água, incapazes de respirar. Não se trata, é claro, do final da prova. Ainda resta muita piscina pela frente, mas já podemos sentir alguma melhora, puxando o ar com vontade e permitindo que aumentemos um pouco a velocidade do exercício.

Luís Otávio Matias é vice-presidente da Tecnobank.

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