Por Professor Armando Bega*
Com mais de 30 anos de dedicação à podologia, posso afirmar que a inclusão dessa especialidade no Sistema Único de Saúde (SUS) não é apenas uma necessidade, mas uma urgência. A cada hora, duas amputações são realizadas no Brasil, muitas delas em decorrência do diabetes, uma doença que pode afetar severamente os pés, mas que também pode ser amplamente prevenida e tratada por podólogos qualificados. Chegou a hora de pararmos de negligenciar um problema de saúde tão grande.
Fui pioneiro na implantação do curso superior de podologia no Brasil e, ao longo da minha carreira, presenciei o impacto devastador que a falta de tratamentos especializados pode ter na vida dos pacientes. Especialmente entre a população idosa e diabética, os cuidados podológicos são essenciais para prevenir complicações graves, como úlceras e amputações, que não apenas comprometem a saúde física, mas também a autonomia e a qualidade de vida dessas pessoas.
Em um país onde o número de diabéticos continua a crescer exponencialmente, a podologia se torna uma ferramenta vital no cuidado preventivo. Recentemente o IBGE divulgou os resultados do Censo 2022, afirmando que a população brasileira totaliza 203.080.756 de pessoas, e isso significa que ao menos 20 milhões de pessoas diabéticas residem em nosso país, visto que o último Vigitel, levantamento em amostra representativa da população brasileira feito pelo Ministério da Saúde, apontou que, a frequência do diagnóstico autodeclarado de diabetes foi de 10,2%.
Em São Paulo, os índices também são preocupantes. Em junho deste ano, o site oficial da capital revelou dados da Secretaria Municipal de Saúde que constatam que 1,1 milhão de cidadãos paulistanos com diabetes mellitus foram acompanhados nos últimos quatro anos nas 471 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade.
O diabetes afeta os pés devido à neuropatia diabética e à má circulação. A neuropatia diabética danifica os nervos, levando à perda de sensibilidade nos pés, o que dificulta a percepção de ferimentos. Já a má circulação, causada pelo estreitamento das artérias, reduz o fluxo sanguíneo para os pés, dificultando a cicatrização de feridas e aumentando o risco de infecções graves. Esses fatores tornam os pés de pessoas com diabetes mais suscetíveis a complicações sérias, como úlceras e amputações, destacando a importância do cuidado preventivo e regular por equipe especializada.
Ao integrar a podologia no SUS, podemos tratar essas pessoas de forma adequada, além de reduzir drasticamente o número de amputações e diminuir também as internações hospitalares e os custos associados ao tratamento de complicações avançadas.
Mais do que tratar unhas e feridas, a podologia tem o potencial de transformar vidas. Com cuidados regulares, podemos devolver a mobilidade, a independência e, sobretudo, o bem-estar àqueles que mais precisam. A podologia no SUS é um passo crucial para um sistema de saúde mais inclusivo e eficaz, que cuida não apenas da doença, mas do ser humano em sua totalidade.
Minha visão para a saúde pública de São Paulo vai além da podologia, pois também sou formado em enfermagem. Acredito que a ampliação do sistema de saúde unido à integração de novas práticas, como a podologia, são a chave para garantir uma saúde de qualidade à população. A prevenção sempre foi e continua sendo o melhor remédio.
*Professor Armando Bega é enfermeiro, mestre e professor de Podologia, com mais de 30 anos de experiência. Pioneiro no curso superior para podólogos no Brasil, é reconhecido internacionalmente por seu trabalho na saúde dos pés, especialmente no tratamento do pé diabético. Luta pela regulamentação da profissão e visa integrar a Podologia ao SUS para garantir acesso gratuito e de qualidade a toda a população.